segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

POTE DA PROSPERIDADE

Pote da prosperidade:

1 compoteira de vidro média,
150 g de lentilha,
150 gramas de ervilha,
5 folhas de louro,
150 gramas de semente de girassol,
5 moedas douradas antigas,
1 lenço amarelo,
1 jarra de louça amarela,
anis estrelado,
arroz com casca,
trigo.
Num domingo, de lua crescente, arrume na compoteira - em camadas - todos os ingredientes. Atenção: as moedas sempre voltadas para cima. Os trigos ficam 'enfiados' na compoteira, compondo um visual muito bonito, como se fosse um arranjo. A jarra (com a água) e a compoteira ficam sobre o lenço amarelo (pode ser dourado também). Ofereça aos ciganos de sua proteção, aos ciganos da prosperidade e sorte. Coloque em seu comércio ou na sua casa, num lugar discreto, mas pode ser à vista de quem entra, sem problemas.
Este pote pode ser renovado de ano em ano.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

E a Injustiça ainda continua !!!!! Saldo negativo contra o Povo Cigano para lembrar o ano de 2013

Artigo publicado em 21 de Outubro de 2013 - Atualizado em 21 de Outubro de 2013
Justiça manda destruir maior acampamento de ciganos de Marselha
Nesta segunda-feira, em Marselha, no sul da França, escavadeiras invadiram o maior acampamento de ciganos da cidade. Cerca de 400 pessoas viviam no local, segundo associações caritativas da cidade. A destruição do local foi decidida pela justiça há três meses.
As famílias que viviam clandestinamente no bairro da Capelette já haviam se retirado do local que ocupavam há um ano. A chegada dos tratores para derrubar os alojamentos improvisados revoltou a Liga dos Direitos Humanos local. "Os poderes públicos continuam a tratar o problema dos ciganos de forma violenta, discriminatória e sem respeito aos direitos fundamentais", lamentou Jean-Claude Aparicio, vice-presidente da Liga.
Para as associações que se ocupam dos menos favorecidos, "os ciganos desalojados vão engrossar a população de outros acampamentos selvagens de Marselha, tornando suas condições de vida mais sórdidas ainda". A justiça francesa havia ordenado em 31 de julho o esvaziamento do acampamento devido à ocupação ilegal do terreno, dando um prazo de dois meses para a partida dos ocupantes.
Ciganos na França
Cerca de 2.000 ciganos vivem no departamento Bouches-du-Rhône, dos quais 1.500 em Marselha.
Calcula-se que 20 mil ciganos vindos da Bulgária e da Romênia vivem atualmente em 400 acampamentos espalhados pelo território francês. Segundo a ONG Anistia Internacional, a minoria continua sendo vítima de expulsões que violam o direito internacional em matéria de Direitos Humanos.


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

INDIGNAÇÃO - PRECONCEITO – INJUSTIÇA - PERSEGUIÇÃO

INDIGNAÇÃO -  PRECONCEITO –
INJUSTIÇA - PERSEGUIÇÃO

Venho por meio desta postagem mostrar minha indignação e dar minha cara para bater , por mais essa discriminação contra o povo cigano. Um povo abençoado com uma cultura e tradição diferenciada.
O tratamento  dado aos idosos pelos ciganos é de se fazer inveja aos não ciganos que maltratam seus idosos , internam em asilos.  E as crianças são sagradas para os ciganos.
Mas o povo europeu, principalmente , nutrem o mito de que ciganos roubam crianças e  CIGANOS NÃO ROUBAM CRIANÇAS.
Se formos buscar no site da REVISTA SUPER INTERESSANTE – no link- http://super.abril.com.br/cultura/saga-cigana-447715.shtml - na REPORTAGEM  A SAGA CIGANA -   no item VERDADES OU MENTIRAS  - a origem das histórias do imaginário cigano podemos ler que o mito que CIGANO ROUBA CRIANÇAS É MENTIRA -   dói para um cigano ver uma criança abandonada – TRECHO DA REPORTAGEM -  Ciganos roubam crianças -
Essa crença pode ter vindo do hábito dos ciganos de circo de incorporar à trupe crianças órfãs ou abandonadas que se encantavam pelo seu estilo de vida. Mas o mais provável é que o medo daquele povo desconhecido o tenha transformado em uma espécie de bicho-papão para os europeus.
Os ciganos tem 12 mandamentos – e o 5º é - Amar e não desmerecer nenhuma criança; -
ENTÃO VAMOS PARAR COM ESTE PRECONCEITO IMBECIL CONTRA OS CIGANOS -  E QUE AS AUTORIDADES INVESTIGUEM SIM , QUEM ABANDONOU A CRIANÇA E – COM CERTEZA -  OS CIGANOS AO VEREM ESTA CRIANÇA ABANDONADA ACOLHERAM-NA E LHE DERAM COMIDA, BEBIDA,  E UMA FAMÍLIA. E SAIBAM QUE CIGANOS NÃO SÃO MENDIGOS,  E PELAS FOTOS ESTA CRIANÇA ESTÁ MUITO BEM CUIDADA -  QUANDO SE SEQUESTRA ALGUÉM  -  PEDE-SE RESGATE -  COISA QUE OS CIGANOS NÃO FIZERAM -  SE LEREM A REPORTAGEM AS AUTORIDADES FORAM DAR UMA BATIDA POLICIAL NO ACAMPAMENTO E ACHARAM A CRIANÇA – NÃO TINHAM NADA O QUE FAZER ALI, OS CIGANOS NÃO PEDIRAM RESGATE E ESTAVAM APENAS CUIDANDO DA CRIANÇA ABANDONADA.


BABALORIXÁ DE XANGÔ E ESTUDIOSO DA CULTURA CIGANA E RESPONSÁVEL PELO BLOG - http://www.reidamagiacigana.blogspot.com.br/

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

OS CIGANOS MODERNOS

REVISTA ISTO É -  COMPORTAMENTO - N° Edição:  2015 |  18.Jun.08 - 10:00 |  Atualizado em 11.Out.13 - 17:33

Os ciganos modernos
REPORTAGEM DE CARINA RABELO

VIDA DUPLA  - Carlos Batuli com as filhas, a médica Iordana (à esq.) e a advogada Carla: quatro filhos na faculdade
Mirian tinha apenas 12 anos quando passou pelo maior constrangimento da sua vida. Ela estava na sala de aula quando uma menina da sua turma perdeu uma caneta de ouro e, imediatamente, apontou a culpada. "Foi a cigana!", acusou. Mirian, a única aluna que teve a sua mochila revistada na turma, chorava num canto, enquanto os colegas assistiam à humilhação pública. Nada foi encontrado. No dia seguinte, a menina achou a caneta. "Não vai me pedir desculpas?", questionou Mirian. A resposta veio com arrogância: "Não. Porque cigano é ladrão mesmo". Elas se atracaram na frente da diretora e os pais foram chamados na escola. O cigano Alberto, pai de Mirian, acostumado a ser ofendido, ficou calado e de cabeça baixa, mesmo ciente de que a filha era a vítima. Mirian teve de se defender sozinha para permanecer na escola. Naquele momento, decidiu que seria advogada.
Mirian Stanescon, 60 anos, foi a primeira cigana a ter curso superior no País. Ela se formou em direito na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, em 1973, e resolveu se dedicar à causa dos ciganos Foi procuradora de Nova Iguaçu e, como advogada, elaborou em março, junto ao governo federal, uma cartilha de direitos do seu povo, como o registro do nascimento, saúde e educação públicas, que deverá ser distribuída aos 900 mil ciganos em todo o País. "Estima-se que a Romênia seja o país com a maior comunidade cigana. O Brasil é o segundo", afirma Perly Cipriano, subsecretário de Direitos Humanos da Presidência da República. "Eles ainda são muito perseguidos e precisam da proteção do Estado."
Os primeiros ciganos chegaram ao Brasil em 1574, expulsos da Europa pela Igreja Católica, que os considerava "um povo diabólico". No Brasil, se dividiram entre Calons - de origem portuguesa e espanhola - e Roms, do leste europeu, divididos em sete clãs - Kalderash, Moldowaia, Sibiaia, Roraranê, Lovaria, Mathiwia e Kalê, que se estabeleceram principalmente no Rio de Janeiro, Paraná, Pará, na Bahia e em São Paulo. Durante a segunda guerra mundial, os ciganos europeus perseguidos por Hitler aumentaram o contingente da comunidade brasileira. Para preservar as tradições, a maioria deles evitava convívio com os brasileiros.Alguns trabalhavam como menestréis, ferreiros, artistas e damas de companhia, mas a maioria vivia em economia de subsistência. Isolados nas barracas, não acompanharam as inovações tecnológicas e rejeitavam o acesso à educação, temendo perder as tradições. "A partir dos 13 anos, a escola era vista como um perigo por causa do convívio entre meninos e meninas. Até hoje, nem todas as famílias deixam a criança estudar após o ensino fundamental", afirma Patrícia Szameitat, 32 anos, cigana formada em enfermagem por influência da avó. "Ao contrário da maioria das famílias ciganas, a minha sempre foi matriarcal e a minha avó priorizou a educação", conta. Aos 17 anos, ela abriu mão do casamento com um primo - que só tinha visto duas vezes - pela faculdade. Patrícia permanece solteira e quer estudar física nuclear. "Muitos ciganos questionam por que ainda não tenho marido e filhos, mas não ligo. Não tenho pressa", diz.
Em geral, as mulheres são mais interessadas nos estudos do que os homens, que trocam a faculdade pelo comércio para sustentar a família. Mas, atualmente, eles já sabem do valor de um diploma. Carlos Alberto Batuli, 59 anos, conhecido como Carlinhos Cigano em Nova Iguaçu (RJ), onde fica a maior comunidade cigana no Brasil, criou a prole com este objetivo. Ele decidiu que os seus quatro filhos não enfrentariam as dificuldades que os seus parentes tiveram para conseguir emprego. "Meus primos tinham vergonha de dizer que eram ciganos. Eu queria que os meus filhos tivessem orgulho da origem e fossem respeitados na sociedade", conta.
O esforço compensou. Iordana se formou em medicina, Carla em direito, Patrícia em educação física e Carlos Dreik cursa fisioterapia. "Sou muito grata ao meu pai. Não deixei de ser cigana porque fiz faculdade e meu marido, que também é cigano, entende os meus plantões e respeita a minha escolha", afirma a ginecologista Iordana Carla de Sá Batuli, 33 anos. "Evolução não significa perder as tradições. Afinal, não vivemos como há 200 anos", complementa a sua irmã, a advogada Carla Andréia Batuli, 32.
PRECURSORA Primeira cigana com curso superior,  Mirian ajudou a elaborar a cartilha.
Nem todas as mulheres ciganas tiveram o incentivo da família na luta por um curso superior. Imar Lopes Garcia, 51, líder do clã Tsara-Romai na baixada santista, sonhava em estudar psicologia, mas foi proibida pelos pais e pelo marido, com quem se casou aos 16 anos. "Eles diziam que eu tinha que cuidar da casa e dos filhos e que estudar era coisa dos gajes (não ciganos)." Mas o sonho permaneceu. Além de ter se realizado ao ver três dos seus dez filhos concluírem a faculdade, Imar pretende trabalhar como assistente social na comunidade local. "Quero ajudar as mulheres do meu povo a terem melhores condições de vida", diz. Quem tem residência fixa pode estudar, mas os andarilhos ainda estão fora do sistema educacional. "Nosso próximo desafio é incluir os ciganos nômades no processo de alfabetização", diz o presidente da Associação de Preservação da Cultura Cigana do Estado do Paraná, Cláudio Iavanovitch.

Fonte - http://istoevip.terra.com.br/reportagens/5055_OS+CIGANOS+MODERNOS
Eles preservam a cultura, mas dão valor ao estudo até para defender seus direitos, agora expressos em cartilha do governo

terça-feira, 1 de outubro de 2013

COMO O CIGANO ENGANOU O DIABO

COMO O CIGANO ENGANOU O DIABO
É lendária e folclórica a imagem da esperteza dos ciganos, povo nômade que, por tradição e necessidade, fez dos negócios sua principal fonte de rendas. Nas vendas e nas trocas apregoa-se que é impossível enganar um cigano. Em nossa literatura, há inúmeros contos que retratam essa inteligência aguçada para o lucro e a agilidade com que parecem trapacear, mas que, na verdade, apenas exploram a pretensa esperteza de seus clientes, ou oponentes, em benefício próprio. Quando imaginam estar ludibriando um cigano, na realidade está apenas sendo ludibriado pela própria esperteza. Há, nos contos e lendas sobre os ciganos narrativas interessantes, que se tornaram tradicionais e, ao longo dos anos, foram sendo adaptadas e recontadas, atualizadas, modernizadas, mas sem perder aquele tempero próprio que ressalta a inteligência e a sagacidade cigana. O conto a seguir, , tem sua fonte no folclore eslavo e foi compilado por A. H. Wratislaw, em seu livro Sessenta Contos Folclóricos de Fontes Exclusivamente Eslavas, publicado em Boston, EUA, por Houghton, Mifflin, & Company, em 1890.
O DIABO E O CIGANO
A. H. WRATISLAW
Um velho cigano empregou-se como servo do diabo, que lhe disse:
— Eu te darei o que desejares para me trazer lenha e água regularmente e manter o fogo aceso sob o caldeirão.
— Feito! — respondeu o velho cigano.
O diabo lhe deu um balde e ordenou:
— Vai ao poço e tira um pouco de água.
Nosso cigano saiu, foi ao poço, apanhou água no balde e tentou retirá-lo com um gancho, mas, por ser velho, não conseguiu tirá-lo e foi obrigado a deitar fora a água a fim de não perder o balde. Mas com o que voltaria agora para seu patrão? Bem, o cigano arrancou uma estaca de uma cerca e revolveu a terra ao redor do poço, como se estivesse cavando. O diabo esperou, esperou e, como o cigano não retornava mesmo, ficou sem a água. Depois de algum tempo, saiu à procura do cigano e perguntou:
— Mas por que demoras assim? Por que não trouxeste logo a água?
— Bem, como? Eu queria tirar o buraco do poço todo fora para levá-lo para você, assim nunca lhe faltaria água!
— Mas você teria desperdiçado tempo, se tivesse feito algo assim. Não me trouxe o balde a tempo nem manteve o fogo aceso, pois a quantidade de lenha não pode ser diminuída.
E tirou a água e levou-a ele próprio.
— Ah! Se eu soubesse, teria feito isso há muito tempo — emendou o cigano.
O diabo o enviou então à floresta para buscar lenha. O cigano começou, mas a chuva o apanhou na floresta e molhou-o completamente. O velho enregelado não
podia inclinar-se para apanhar as varas. O que iria fazer? Bem, ele arrancou fibras dos arbustos e juntou várias pilhas, tecendo cordas. Foi ao bosque e amarrou uma árvore a outra com essas cordas. O diabo esperou e esperou e estava fora de seu juízo por conta do cigano. Foi até lá e, quando viu o que estava acontecendo, quis saber:
— O que você está fazendo para se atrasar tanto?
— O que estou fazendo? Quero levar-lhe madeira. Estou amarrando toda a floresta em um pacote, a fim de não perder tempo.
O diabo viu que estava perdendo tempo com o cigano, tomou a lenha e foi para casa.
Depois de resolver seus assuntos em casa, foi até um velho diabo para pedir seus conselhos:
— Eu contratei um cigano, mas ele é muito folgado e incômodo. Nós, os diabos, somos razoavelmente espertos, mas ele é ainda mais esperto do que nós. E o será até que eu o mate — confessou, furioso.
O velho diabo pensou por alguns instantes, depois sugeriu:
— Bom, quando ele se deitar para dormir, matá-o, para que ele não nos engane mais. É o que ele merece.
De volta para casa, o diabo e seu empregado se deitaram para dormir, mas o cigano, evidentemente, percebeu alguma coisa, porque colocou seu casaco de pele no banco onde geralmente dormia e escondeu-se sob o banco. Quando chegou a hora, o diabo pensou que o cigano estivesse em sono profundo, pegou uma barra de ferro e bateu no casaco de pele com tanta força que o som vibrou, espalhou-se por todos os lados e ecoou ao longe. Ele então se deitou para dormir, pensando:
— Oho! Agora é amém para o cigano!
Mas o cigano resmungou:
— Oh! — e fez um barulho sob o banco.
— Que tens? — surpreendeu-se o diabo.
— Oh, uma pulga me picou.
No dia seguinte, mal nasceu o dia, o diabo retornou correndo ao mais velho para se aconselhar.
— Mas como matá-lo? — indagou ele. — Quando lhe bati com um ferro, com todas as minhas forças diabólicas, ele só fez um barulho e disse que uma pulga o picara.
O velho diabo meditou por algum tempo, depois deu seu conselho.
— Então paga-o agora — disse ao jovem diabo — tudo o que ele quiser e manda-o cuidar de sua vida.
Assim fez o diabo e o cigano recebeu um saco de ouro e foi embora. Então o diabo ficou arrependido de ter gastado tanto dinheiro e consultou o mais velho de
novo.
— Alcança o cigano e propõe-lhe um desafio: quem chutar uma pedra com mais força ficará com o dinheiro.
O diabo saiu imediatamente no encalço do cigano.
— Espere, cigano! Tenho uma proposta a lhe fazer — falou, assim que o encontrou.
— O que você quer agora, filho do inimigo?
— Vamos chutar uma pedra. Quem a chutar com mais força, ficará com o ouro.
— Mas eu já tenho o ouro.
— Então, se ganhar, eu lhe darei um outro saco de ouro.
— Se é assim, então pode chutar — disse o cigano.
O diabo chutou uma pedra com toda a sua força, provocando um estrondo que ecoou longe, mas o cigano, sem que o diabo percebesse, derramou água numa
pedra antes de chutá-la.
— Eu ganhei, seu idiota! — disse o diabo.
— Ganhou coisa nenhuma. Eu chutei mais forte. Chutei com tanta força que
arranquei água da pedra.
O diabo ficou possesso, pagou, mas foi de novo em busca de mais um conselho. O mais velho disse:
— Faça um novo desafio. Leve seu cetro e aquele que o jogar mais alto ficará com todo o ouro.
O diabo gostou da idéia, pois seu cetro feito de aço era muito pesado, pesado demais para o velho cigano. Além disso, era seu objeto mais estimado e símbolo de seu poder.
O cigano já havia percorrido um bom trecho do caminho, quando olhou para trás e viu o diabo em seu encalço.
— Para! Espera, cigano!
— O que você quer, filho do inimigo?
— Vamos ver quem atira meu cetro mais alto. Quem vencer, ficará com todo o ouro.
— Mas eu já tenho o ouro — protestou o cigano.
— Se eu perder, eu lhe darei o dobro.
— Sendo assim, vamos lá. Tenho dois irmãos ferreiros no céu e ficarão muito
felizes em usar o cetro para fazer um bom martelo e um alicate de primeira —
disse o cigano, fingindo uma satisfação inesperada.
O diabo, então, se preparou e arremessou o cetro para o alto. Lançou-o com tanta força que o cetro zumbiu no ar e quase sumiu no alto, caindo em seguida.
O cigano o apanhou. Era pesadíssimo e ele mal conseguia segurá-lo. Olhou para o alto e gritou:
— Hei, irmãos, estendam as mãos um pouco mais para a direita... Sim, aí mesmo. Vou jogar. Podem pegar. Preciso que me façam um bom martelo e um forte alicate, pode ser?
Quando fez menção de jogá-lo, o diabo agarrou sua mão, impedindo-o.
— Não! Para! Seria uma pena derreter o cetro. Você ganhou — reconheceu, a
contragosto.
O diabo o pagou e correu novamente ao diabo mais velho para se aconselhar.
O diabo mais velho pensou bastante, depois aconselhou-o:
— Alcança-o mais uma vez e proponha: quem correr mais rápido até um certo
ponto, ficará com o ouro.
O diabo alcançou o cigano e lhe fez a proposta, ao que o outro lhe disse:
— Sabe de uma coisa? Não vou disputar mais com você, porque não é páreo
para mim, mas tenho um filho pequeno, Hare, que tem apenas três dias de idade.
Se você conseguir alcançá-lo, então disputarei com você.
O cigano vira uma lebre no descampado e disse:
— Lá está ele! Hare vá! Agora, então, pega-o — apontou ele ao diabo.
Quando a lebre, assustada com o grito, disparou, o diabo saiu em quase
voando atrás dela, mas a lebre corria em ziguezague, levantando uma nuvem de
poeira atrás dela, driblando-o e deixando-o para trás.
— Bah! — exclamou o diabo. — Ele não corre em linha reta.
— Na minha família ninguém corre em linha reta. Hare corre como lhe agrada
e como todos da família.
O diabo pagou novamente e retornou com o rabo entre as pernas. O mais velho diabo aconselhou-o a lutar. O mais forte ficaria com o ouro e lá foi novamente o diabo atrás do cigano.
— Eh! — disse o cigano, você não desiste mesmo. Ouve as condições para eu
lutar com você: tenho um pai, é tão velho que nos últimos sete anos vive recluso
em uma caverna, onde tenho levado alimento para ele. Não se banha e não cortou
os pêlos do corpo por todos esses anos. Se você o derrubar, então luto com você.
Ocorre que o cigano sabia da existência de um velho urso nas redondezas e
levou o diabo até sua caverna.
— Vá! — disse ele. — Desperta-o e luta com ele.
O diabo entrou e vociferou:
— Levanta-te, peludo! Vamos ter uma luta. Ai de mim! — choromingou de
imediato, quando o urso o abraçou, cravou suas garras nele, mordeu-o e o jogou
para fora da caverna. Pela última vez o velho diabo o aconselhou para que disputassem quem assobiava melhor e mais alto, tanto que pudesse ser ouvido o mais longe possível.
— Quem assobiar mais alto, fica com todo o ouro — propôs.
— Mas eu já tenho o ouro — replicou o cigano.
— Eu dobro, se perder.
— Mas se eu ganhar, terás de me dar também uma carroça e um bom cavalo para levar todo esse ouro.
— Que assim seja — concordou impaciente o diabo.
— Sendo assim, pode assobiar.
O diabo assobiou tão alto que o som ecoou por quilômetros.
Mas o cigano disse:
— Sabe de uma coisa? Quando eu assobiar, vais ficar cego e surdo. Enfaixa
teus olhos e ouvidos para protegê-los.
O diabo assim o fez. O cigano pegou duas lascas de um tronco caído ao lado e
bateu-as contra os ouvidos do diabo.
— Oh, para! Oh! não assobie mais ou vais me matar! Que a má sorte te acompanhe com teu cavalo, tua carroça e teu ouro! Vai para onde eu nunca mais
possa ouvir-te de novo! Não há como superar-te — desistiu o diabo, retornando
com o rabo definitivamente entre as pernas. Isso é tudo.
Fonte:

Wratislaw, A. H. Sessenta Contos Folclóricos de Fontes Exclusivamente Eslavas. Boston: Houghton, Mifflin, & Company, 1890.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A saga cigana A história e os segredos do povo mais misterioso do mundo

A saga cigana
A história e os segredos do povo mais misterioso do mundo
por Texto Luciano Marsiglia

Imagine um mundo em que as pessoas não tenham endereço fixo, documentos, conta em banco, carteira assinada nem história. E que a vida deles passe despercebida, como se não existisse. Que a única certeza é que nunca faltará preconceito e ignorância, medo e fascínio, injustiças e alegrias ao longo de sua interminável jornada. Bem-vindo ao mundo cigano.
Ou melhor: à imagem que temos dele. O universo cigano é tão antigo e extenso, tão cheio de crenças e histórias que nem mesmo seu próprio povo conhece bem o limite entre verdade e lenda. É que o nome “cigano” designa muitos povos espalhados por quase todas as regiões do mundo. Povos com diferentes cores, crenças, religiões, costumes, rituais, que, por razões às vezes difíceis de compreender, foram abrigados sob esse o imenso guarda-chuva (assim como populações muito diferentes são chamadas de índios).
A história dos ciganos é toda baseada em suposições. E a razão é simples: faltam documentos. Os ciganos são um povo sem escrita. Eles nunca deixaram nenhum registro que pudesse explicar suas origens e seus costumes. Suas tradições são transmitidas oralmente, mas nem disso eles fazem muita questão – os ciganos vivem o hoje, não se interessam por nenhum resquício do passado e não se esforçam por se manterem unidos. A dificuldade em se fixar, o conceito quase inexistente de propriedade e a forma com que lidam com a morte – eliminando todos os pertences do falecido – dificultam ainda mais o trabalho aprofundado de pesquisa.
Uma teoria, contudo, é aceita pela maioria dos especialistas. A partir da constatação da semelhança entre as línguas romani (praticada pelos rom, o maior dos grupos ciganos) e hindi (variação do sânscrito, praticada no noroeste da Índia, onde hoje fica o Paquistão), foi possível elucidar a primeira e grande diáspora cigana. Um grande contingente, formado, possivelmente, por uma casta de guerreiros, teria abandonado a Índia no século 11, quando o sultão persa Mahmoud Ghazni invadiu e dominou o norte do país. De lá, emigraram para a Pérsia, onde hoje fica o Irã. A natureza nômade de muitos grupos ciganos, entretanto, também permite supor um movimento natural de imigração que tenha chegado à Europa conforme suas cidades se desenvolviam, oferecendo oportunidades de negócios para toda sorte de viajantes e peregrinos.
É provável que, pelo caminho, por volta do século 15, tenham passado pelo Pequeno Egito, uma região do Peloponeso, no interior da Grécia. Pelo menos era de lá que eles diziam vir a quem perguntava a sua origem. Daí o nome gypsy (em inglês), ou gitanos (em espanhol). Mas, antes disso, ainda no século 13, um documento escrito por um patriarca de Constantinopla já advertia sobre a presença dos adingánous, um povo errante que, dizia, ensinava coisas diabólicas. O registro é o primeiro a tratar os ciganos de forma pejorativa e a registrar o medo que as cidades européias sentiam de suas caravanas. Era o começo da sina cigana.
“Desde o início do contato com o Ocidente, eles foram causa de conflitos, provocadores de desordem e subversivos ao sistema. E sofreram todo tipo de perseguições religiosa, cultural, política e racial”, diz Aluízio Azevedo, mestre em história cigana pela Universidade Federal de Mato Grosso e ele mesmo um cigano calon (veja no quadro ao lado os principais grupos ciganos). É difícil saber o que veio primeiro: hábitos pouco ortodoxos ou o preconceito em relação a uma cultura tão diferente. Os ciganos tinham a pele escura, muitos filhos, uma língua indecifrável e origem desconhecida. Talvez a falta de oportunidades de emprego tenha sido a causa do seu destino artístico. Eram enxotados e então se mudavam, levando novidades dos lugares de onde vinham. Assim, surgiu a fama de mágicos, feiticeiros. Se todos acreditavam nisso, por que não aproveitar para fazer dinheiro? E, então, as mulheres passaram a ler as mãos, a prever o futuro. Negociar objetos era outra forma de sobrevivência: os ciganos tinham acesso a mercadorias “exóticas” e podiam levar sua tralha para onde quer que fossem.
Os bandos que chegavam ao continente europeu eram liderados por falsos condes, duques ou outros títulos de nobreza. Observando os peregrinos europeus, que entravam e saíam facilmente das cidades, copiaram a idéia de salvo-conduto – uma espécie de pai do passaporte. Os ciganos inventavam que seus documentos haviam sido expedidos por Sigismundo, rei da Hungria. Justificavam a vida nômade dizendo que bispos os haviam condenado a peregrinar durante 7 anos como penitência pelo abandono da fé cristã. Alguns dos salvos-condutos permitiam até que furtassem quem não lhes desse esmolas. Uma tática para aumentar a chance de ser aceitos nas comunidades, fazer negócios e exibir seus dons artísticos. Até que a farsa acabava e eles pulavam novamente para outra cidade.
Durante a Reconquista Cristã de 1492, na península Ibérica, árabes, judeus e ciganos foram expulsos – muitos deles vieram para as Américas. Um século mais tarde, eram varridos da França, por Luís 12, e da Inglaterra, por Henrique 8o. Logo depois, a rainha Elisabeth 1a decretou que ser cigano era crime punido com morte. Uma das lendas que surgiram nessa época, e que até hoje perdura, é a de que um dos ferreiros que fizeram os pregos que prenderam Jesus na cruz era cigano. Por isso, sua gente teria sido amaldiçoada com uma vida nômade. E dessa forma construiu-se a imagem de povo errante, místico, perigoso e contraventor. Assim, no contato com as imagens construídas e alimentadas no Ocidente, foi criado o conceito de um povo cigano.
E o que é ser cigano?
Definir a identidade cigana é bem mais difícil do que parece. Subdivididos em 3 principais etnias (rom, calon e sinti), eles não constituem um povo homogêneo. Nem todos são nômades. Nem todos falam romani. Nem todos dançam ao redor de fogueiras ou usam roupas coloridas. Podem ser pobres ou ricos. Podem ser cristãos, muçulmanos, judeus. O que faz deles um povo é uma sensação comum de não serem gadgés – como eles chamam os não-ciganos – e de se identificarem como rom, calon ou sinti. “O termo ‘cigano’ só funciona nessa oposição”, diz o pesquisador Frans Moonen, autor do livro Anticiganismo – Os Ciganos na Europa e no Brasil.
Mas, apesar de todas as divergências, algumas características permitem traçar um perfil comum a esses grupos. A primeira delas é o espírito viajante. Ainda que nem todos sejam nômades, os ciganos não se sentem pertencentes a um único lugar. Não criam raízes, não têm uma noção concreta de propriedade – estão sempre fazendo negócios com seus pertences, preferencialmente em ouro, que não perde valor e é aceito em qualquer nação (por isso a imagem cigana é vinculada ao uso do ouro como adereço, especialmente nos dentes das mulheres). Eles não gostam de se submeter a leis e a regras que não sejam as deles. Prezam, acima de tudo, a liberdade. Assim, podem até se estabelecer por muito tempo em um mesmo lugar (como é comum entre os sinti). Mas, nesse caso, procuram morar em uma mesma rua ou, de preferência, em acampamentos onde possam preservar sua autonomia e manter a unidade familiar – outro aspecto primordial na vida cigana.
É em torno da família que uma comunidade cigana se organiza. Há um líder, sempre um homem, nomeado por mérito e não por herança. Ele é escolhido levando em conta vários aspectos. Um deles, importantíssimo para conseguir alugar um terreno, montar um circo ou participar de feiras, é ter um documento de identidade, o que se tornou um verdadeiro desafio – o cigano não consegue registrar o nascimento dos filhos porque não possui documentos próprios, em um processo sem fim. Também deve ser um bom interlocutor entre o poder público e seu grupo, além de ter habilidade para resolver os problemas internos do acampamento. É ele quem dita as regras, divide as tarefas, cria as leis do grupo.
A sociedade cigana é patriarcal, quase machista. Ao se casar, o homem vira o responsável pelo sustento do lar. A mulher passa a morar com a família do marido e deve cuidar dele, dos sogros, da casa e dos filhos. Isso costuma acontecer cedo, ainda na adolescência: logo após a primeira menstruação, a menina já é considerada apta para casar e ter filhos. A noiva deve ser virgem. Tradicionalmente, sua pureza é comprovada em um dos rituais da longa festa de casamento, em que o lençol da noite de núpcias é exibido para toda a comunidade. Antigamente, os pais do noivo deviam pagar um dote à família da moça, mas esse hábito já não existe mais na maior parte dos acampamentos.
O casamento entre primos, no entanto, continua sendo estimulado, também na tentativa de preservar o núcleo familiar. É natural que em comunidades nômades seja mais difícil acontecer um casamento entre ciganos e gadgés. Mas é possível e permitido. Nesse caso, o homem ou a mulher deve mudar de vida. Ser cigano não depende do sangue – se o gadgé optar por se integrar ao grupo, automaticamente vira um deles.
À medida que se estabeleceram na Europa e nas Américas, os ciganos assimilaram cerimônias e ritos ocidentais. No Brasil, por exemplo, o catolicismo foi adotado pela maioria (é comum encontrar imagens da Nossa Senhora Aparecida nas barracas). Mas algumas tradições permanecem fortes. A simbologia da morte é a principal delas. “Quando um cigano morre, há um processo de morte que se instala em todos os indivíduos do grupo”, afirma Aluízio. Os calon realizam rituais de cura assim que é diagnosticada a doença. Além de aceitar a medicina tradicional, eles recorrem a rezas, correntes de orações, garrafadas de ervas, chás e simpatias, geralmente ministradas por uma curandeira do grupo.
Durante o velório, o morto é o centro do ritual e, dependendo da posição que ele ocupava, a família se reestrutura: uma nova liderança terá que ser eleita. O corpo do falecido é lavado, untado com ervas aromáticas e vestido adequadamente. Esse momento de sofrimento e cumplicidade é importante para a identidade do grupo. Como em outras culturas, percebe-se a possibilidade de transcendência. No caso dos ciganos, esse é o momento de encontrar a sua alma naturalmente viajante.
Em alguns acampamentos, eliminam-se todos os pertences do morto. Até o seu trailer chega a ser queimado. “É como um corte na história. Nada é guardado, não se resgata o passado”, diz Florencia Ferrari, estudiosa do assunto e autora do livro Palavra Cigana. Depois da morte de um membro, muitos grupos ciganos se mudam para outro acampamento.
Os ciganos hoje
Imagina-se que existam 15 milhões de ciganos espalhados pelo mundo. Como tudo relacionado a esse universo, essa é só uma estimativa – eles vivem à margem da sociedade e não costumam participar de pesquisas de censo demográfico.
E isso, por si só, já é uma polêmica. Em maio deste ano, o premiê italiano, Silvio Berlusconi, autorizou que fosse feito um censo especial para mapear a presença de ciganos sem moradia fixa na periferia das grandes cidades italianas. O censo incluiria dados como etnia, religião e impressão digital – que não são exigidos na identidade dos italianos. Os ciganos saíram às ruas em protesto, argumentando que essa seria uma ferramenta racista e discriminatória.
A medida foi considerada ilegal pelo Parlamento Europeu, já que impõe exigências desiguais a cidadãos do bloco. Mas os ciganos continuam com medo de ser expulsos do país, ainda que um terço dessa população não seja nem mesmo imigrante.
O receio é justificável: desde o século 15 os ciganos não têm um momento de folga. Até o século 19, eles foram escravizados na região onde hoje é a Romênia. Durante a 2a Guerra Mundial, foram perseguidos pelos nazistas, sendo, de acordo com alguns historiadores, o povo mais dizimado pelo Holocausto: do 1 milhão de ciganos que vivia na Europa, 500 mil foram assassinados. Muitos dos sobreviventes emigraram para os EUA, daí a lei que impedia sua entrada no estado de Nova Jersey, que só foi abolida nos anos 90.
“Na Europa, em praticamente todos os países, os ciganos são a minoria mais discriminada, muito mais do que os judeus ou os negros”, diz Moonen. E no Brasil não é muito diferente. O primeiro grupo de ciganos, de maioria calon, chegou por aqui no século 16, deportados de Portugal. Os rom vieram de forma voluntária a partir da 2a metade do século 19. Naquela época, eram comerciantes ambulantes de escravos, cavalos e artesanatos. Hoje compram e vendem carros, televisores e toalhas. Os mais recentes, às vezes bem pobres, vieram do Leste Europeu após a derrocada da União Soviética. Alguns são sedentários, mas a maioria se mantém na vida itinerante. Todos sofrem com desconfianças e preconceitos.
A cidade de Sousa, no interior da Paraíba, é um caso clássico. Os cerca de 450 ciganos fixados há anos por lá não recebiam entregas de correio nem tinham o lixo coletado em seu acampamento. Curiosamente, muitas escolas recusavam a matrícula de crianças ciganas. O caso ficou bem conhecido na região: foi necessária a intervenção da Procuradoria da República da Paraíba para resolver a questão.
Tanto no Brasil quanto na Europa, o analfabetismo entre os ciganos é alto. Por aqui, segundo a historiadora Isabel Fonseca, 3 em cada 4 mulheres ciganas são analfabetas. Por lá, escolas que só aceitam ciganos têm os piores níveis de qualidade. A falta de estudo e a vida à margem os empurram cada vez mais para a criminalidade, o que alimenta as visões deturpadas e generalizadas que sobrevivem desde os primeiros contatos entre ciganos e europeus. Enquanto não forem compreendidos, eles se mudarão e começarão tudo de novo. Seguirão vivendo sua saga cigana.
“Parece que os ciganos vieram ao mundo somente para ser ladrões: nascem de pais ladrões, criam-se com ladrões, estudam para ser ladrões (...).”
– La Gitanilla, Miguel de Cervantes, 1613.

Iguais, mas diferentes
Quem são os 3 principais grupos ciganos
Rom ou Roma
Predominantes nos países balcânicos, principalmente na Romênia, falam romani, a mais conhecida das línguas ciganas, e são o grupo mais estudado pelos pesquisadores. São divididos em subgrupos: kalderash, matchuaia, curcira, entre outros. Consideram-se os “ciganos autênticos”.
Sinti
Também chamados de manouch, são mais numerosos na Itália, no sul da França e na Alemanha. Falam a lingua sintó, para alguns pesquisadores, uma variação do romani. Não há estudos que apontem a presença significativa desse grupo no Brasil.
Calon ou Kalé
Conhecidos por “ciganos ibéricos”, já que viviam na Espanha e em Portugal antes de se espalhar pelo resto da Europa e da América do Sul. São os criadores do flamenco e responsáveis pela popularização da figura da dançarina cigana. Falam a língua caló e são o grupo mais numeroso do Brasil.

Verdade ou mentira?
A origem das histórias do imaginário cigano
Ciganas lêem a sorte
Amparados pelo mistério que os rodeava, os ciganos perceberam que poderiam utilizar a curiosidade dos povoados sobre o futuro como um modo de fazer negócio e ganhar dinheiro. A crença virou parte da cultura cigana. Hoje, as ciganas lêem até mesmo a sorte de outras mulheres do grupo, mas, nesse caso, sem dinheiro envolvido.
Ciganos roubam crianças
Essa crença pode ter vindo do hábito dos ciganos de circo de incorporar à trupe crianças órfãs ou abandonadas que se encantavam pelo seu estilo de vida. Mas o mais provável é que o medo daquele povo desconhecido o tenha transformado em uma espécie de bicho-papão para os europeus.
Ciganos são negociantes
É possível que sua vida errante tenha favorecido atividades relacionadas ao comércio. Além de terem acesso a objetos “maravilhosos” dos lugares por que passavam, conseguiam carregar a sua forma de sustento numa mala sempre que precisavam levantar acampamento.
Ciganos são trapaceiros
Na Idade Média, aquelas pessoas exóticas e desconhecidos eram vistas como bruxas (muitas foram queimadas durante a Inquisição). A vida à margem da sociedade muitas vezes os empurrava à criminalidade. As outras formas que encontravam para ganhar dinheiro – comércio e leitura de mãos – colocavam à prova sua honestidade. Essa confluência de fatores pode ter criado a imagem do cigano trapaceiro.
Ciganos falsificam ouro
Tradicionalmente, muitos grupos ciganos dominam o trabalho com metais. Algumas etnias carregam isso até no nome, como os kalderash (“caldeireiros”, em romani). No Brasil, os ciganos participaram da exploração de minas de ouro no século 18. Junte-se tudo isso à fama de trapaceiros e fica fácil entender a crença de que eles falsificam metais.
Ciganos honram a palavra
Como são um povo sem escrita, as leis ciganas são regidas com base na palavra dada. O não-cumprimento de uma regra ou de um acordo representa uma grande ofensa à sociedade cigana, e quem o faz é desmoralizado perante o grupo.

Para saber mais

Anticiganismo – Os Ciganos na Europa e no Brasil
Frans Moonen, Centro de Cultura Cigana, 2008.dhnet.org.br/direitos/sos/ciganos/index.html
História do Povo Cigano
Angus Fraser, Teorema (Portugal), 1997.



quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A RELIGIÃO CIGANA

A RELIGIÃO CIGANA


Os Ciganos não tem uma religião própria, não reconhecem um deus próprio, nem sacerdotes, nem cultos originais. Parece singular o fato de que um povo não tenha cultivado no decorrer dos séculos crenças particulares em mérito à divindade, nem mesmo formas primitivas de tipo antropomórfico ou totêmico. O mundo do sobrenatural é constituído pela presença de uma força benéfica, Del ou Devél, e de uma força maléfica, Beng, contrapostas entre si numa espécie de zoroatrismo, provável resíduo de influências que esta crença teve sobre grupos que em época remota atravessaram a Pérsia. Existem pois, nas crenças ciganas, uma série indefinida de entidades, presenças que se manifestam sobretudo à noite. Quanto à religião, em geral os Ciganos parecem ter-se adaptado no decorrer da história às confissões vigentes nos países que os hospedaram, mas sua adesão parece ser exterior e superficial, com maior atenção aos aspectos coreográficos das cerimônias, como procissões, peregrinações, próprias de uma religiosidade popular ainda largamente cultivada no âmbito católico.Um sinal de mudança se dá pela difusão do movimento pentecostal, ocorrida a partir dos anos 50, através da Missão Evangélica Cigana, surgida na França. Em seguida a isso, registram-se todavia profundas lacerações no interior de muitas famílias, devido às radicais mudanças de costume que tal adesão impõe e que encontram explicação na natureza fundamentalista do movimento religioso em questão. Tais imposições muitas vezes acabam por induzir os Ciganos a uma recusa de suas peculiaridades culturais, ainda que dependa muito da capacidade de crítica e de discernimento de cada indivíduo.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

QUEM SÃO E DE ONDE VÊM OS CIGANOS?

Quem são e de onde vêm os ciganos?
Ainda hoje, a origem desse povo continua envolta em mistério. Suas histórias sempre foram transmitidas de geração para geração pela tradição oral, o que cria muitas lendas e não deixa registros precisos. Alguns especialistas acreditam que eles surgiram na Índia, já que o idioma falado pelos ciganos tem muitas semelhanças com várias línguas do subcontinente indiano. Mas também existem indícios que apontam para outra região. "Nas antigas lendas ciganas, constatamos referências bíblicas que podem nos direcionar a uma origem na Caldéia (região que hoje pertence ao Iraque) e não na Índia. Outro ponto significativo é a crença em um único Deus criador, Devel, o que os aproxima da história de povos semitas, ao contrário do que seria esperado de uma origem indiana, com suas várias divindades", afirma a geógrafa Solange Lima Guimarães, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), autora de uma tese de doutorado sobre os ciganos.
Caso eles possuam mesmo raízes no Oriente Médio, é provável que tenham surgido alguns milênios antes de Cristo. Qualquer que seja o ponto de partida, sabe-se que eles se deslocaram do Oriente para o Ocidente até chegarem à Europa no fim do século XIV. Nessa época, os ciganos foram perseguidos pela Inquisição, o tribunal da Igreja Católica que julgava crimes contra a fé. Como conviviam tanto com mouros quanto com cristãos, os ciganos oscilavam do paganismo ao cristianismo, o que bastava para serem acusados de heresia. O pior é que os preconceitos em relação à religiosidade, à cultura e ao modo de vida nômade desse povo não ficaram restritos à Idade Média. Séculos mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os alemães mataram cerca de 400 mil ciganos, vítimas da ideologia nazista que defendia uma raça supostamente pura, a ariana, na Europa.
Hoje, calcula-se que existam de 2 a 5 milhões de ciganos no mundo, concentrados principalmente na Europa Central, em países como as Repúblicas Checa e Eslovaca, Hungria, Iugoslávia, Bulgária e Romênia. Durante as andanças pelo mundo, eles influenciaram a cultura de várias regiões. Um bom exemplo vem da Espanha, onde a rica tradição da música e da dança ciganas deu origem ao flamenco.
Migração intercontinental - Os ciganos só chegaram à Europa no século XIV Não se sabe se os ciganos surgiram na Índia ou no atual Iraque, mas de um desses dois pontos eles rumaram para o Ocidente, chegando à Europa pela região da Armênia, por volta do século XIV. De lá, atravessaram o continente até alcançarem as ilhas britânicas e a península Ibérica. No século XVII, os ciganos já haviam se espalhado por todos os países da Europa e deles seguiram para colônias na América e na África. O documento mais antigo referente à presença dos ciganos no Brasil é de 1574.